quinta-feira, 5 de março de 2015

imobilidade

O rapaz sentou-se na poltrona e colocou seus pés pra cima, o dia já era noite e o ambiente estava escuro e silencioso, com um tom de melancolia no ar.
Seu espírito queria se mexer, fazer algo, sair daquela situação, porém sua alma parecia não responder a nenhuma dessas intenções.
A porta abriu-se atrás dele, por onde entrou um palhaço desajeitado que veio até sua frente, tirou-lhe os pés do apoio em que repousavam e sentou-se. Tirou então seu próprio nariz vermelho e colocou no garoto, que não esboçou nenhuma reação, então lhe disse:
"Queres ou não, o meio termo irá te corroer, amargurar e transformar-te numa piada velha e sem graça, sendo contada em um circo de segunda de onde muito provavelmente sairá um palhaço como eu, esperando arrancar algumas risadas de poucos pobres coitados que não souberam o que fazer com a própria vida e acabaram por ser espectadores de um show de horrores."
O palhaço então apertou o nariz vermelho, levantou-se e foi a cozinha fazer um chá que, depois de pronto, levou e colocou no encosto da poltrona ao lado do garoto que continuava sem exibir qualquer sinal de reação e ordenou:
"Toma! Teu caminho, teu rumo, tua vida de volta, faz dela o que tu quer, mas primeiro toma esse chá que te aquecerá a alma, e espero nunca mais te encontrar."

O rapaz então estendeu a mão para a pegar a caneca, porém antes que pudesse alcançá-la a cena dissolveu-se em nuvens e ele acordou.

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