quinta-feira, 28 de março de 2013

bobagem, besteira

As vezes vale mais a pena não se importar quando alguém com quem você se importa se irrita com alguma coisa besta. Provavelmente será mais fácil para ela perceber o quão fútil e ridículo é criar caso por tal coisa.
Não me leve a mal, todos nós nos importamos com coisas relativamente pequenas em algum dado momento, todos devemos ser tratados com um pouco de indiferença, ela é a melhor professora de todas, superando amor e ódio que fazem uso de suas lições sacrificiais e dolorosas.
Bruxa, como alguns chamariam. Feitiçaria, o nome que seria dado ao seu efeito. A indiferença nos faz questionar à tudo e à todos, procurando uma razão para tamanha falta de preocupação. Afinal como pode, alguém não se importar nenhum pouco com algo que, para nós, é tão importante? Inaceitável.

Até que enxergamos a situação como ela realmente é, percebemos que os murros na ponta da faca, que permanece indiferente ao nosso sofrimento, são inúteis.

Existem então duas possibilidades de fuga da situação, simplesmente pararmos de tentar fazer com que o outro se importe, ou pararmos de nos importar com algo que só nos causa problemas, imensos em relação ao seu tamanho,  uma gota d'água em um copo que já está transbordando, gota essa que desaparecerá ou criará mais gotas dependendo da nossa decisão, afinal, fugir nunca adiantou, foi sempre uma solução temporária, não?

quarta-feira, 13 de março de 2013

temor, temmor, tem amor


Sentir é mais que pensar sobre,
Inútil tentar evitar.
Andando de mãos dadas com o medo,
O amar nos acolhe e sussura:
“Venha criança, não tema”.
Enganamo-nos, porém estamos certos,
Não tema enquanto ame.
Mas e quando se teme amar, sozinho?

segunda-feira, 4 de março de 2013

café servido

A manhã fria e cinzenta era a perfeita descrição de sua vida.
Seu despertador soou com um som tão agudo que chegou a acordar o vizinho de baixo, ele porém nem se mexeu. Já estava acordado, esperava o despertador havia horas, sem nem piscar.
Era um estado parecido com o sono, ele porém ficava de olhos abertos, estava consciente, ou quase isso.

Como uma máquina que acabara de ser ligada, seus pensamentos voltaram a fluir, enchendo cada canto de sua mente. Quando se levantou, sentiu a cabeça doer, talvez tivesse algo haver com o álcool circulando em seu sangue, mas ele duvidava muito. Ele poderia jurar que mesmo se não tivesse ingerido uma gota de álcool, a intensidade da dor de cabeça seria igual.

Aos poucos a realidade voltava a atingir o seu ser, todas as perdas dos últimos meses, as pessoas que ele nunca mais veria, as traições que descobriu, todos os ferimentos sendo perfurados, de novo e de novo pela consciência, o simples fato de saber, sentir, era uma tortura.

Algumas desgraças eram, de fato, resultado de seus atos. "Porque tão insistente e teimoso?" pensava agora, indignado. Outras entretanto, eram a cereja de um bolo feito pelo destino. Deuses conversando e rindo enquanto se embebedavam atrás de mesas fartas, ele conseguia quase ouvi-los, jurava.

Talvez estivesse louco, depois de tudo, não duvidava. Qualquer pessoa devia ter uma condição psicológica mais confiável que a dele, sabia. Ninguém teria sido capaz de suportar aquilo tudo e continuar vivendo normalmente, ele não sabia como ainda aguentava, porém quando se dava conta, a mesa estava servida com o café pronto. Toda sua alma gritava de dor enquanto seu corpo ia trabalhar, como se houvesse algum botão de piloto automático ligado.

Há apenas alguns meses seus pais eram casados e vivos, então como uma tempestade começaram a brigar e a bola de neve culminou na separação. Sua mãe então cometeu suicídio após entrar em uma depressão profunda, ele nada pôde fazer, ou pelo menos é o que dizia a si mesmo, sabendo que se ele acreditasse em qualquer outra coisa não conseguiria viver mais um dia sequer. Logo após a morte de sua mãe, seu pai descontrolou-se nas apostas e foi morto por uma dívida, a qual era relativamente pequena se comparada com o preço de uma vida.

Ele porém pouco se importou, talvez por culpá-lo pelo suicídio da sua mãe.

Algum tempo depois disso, quando finalmente conseguiu se distrair com algo, apaixonou-se. A menina era linda. Morena de olhos verdes, o tamanho certo para ele. O cupido parecia sorrir para ele, enganado. Era o destino travestido, com sua gargalhada de gelar a espinha, um som realmente digno de ser chamado de demoníaco.

Ela era o seu amor prometido, até ter de se mudar para longe. Ficou dias sem conseguir comer nada, talvez a situação tenha tornado ela mais importante do que ela realmente devesse ser. Hoje pensava assim, quando pensava.

A noite caiu e ele voltou para casa, molhado da chuva que agora caía devagar lá fora, exausto depois de um dia de trabalho corrido, resolveu comer o brigadeiro que havia feito, vendo um filme de desenhos antigos. Lembrava-lhe de sua infância, onde tudo parecia tão mais quente e colorido, e assim ele fechou os olhos, adormeceu e fugiu da realidade, da nossa realidade.

Foi morar nos sonhos até acordar de novo, uma trégua para a alma, para poder sobreviver um dia após o outro. Em seus sonhos ele era como o Peter Pan, nunca havia crescido e tudo continuava como nunca devia ter deixado de ser.